sábado, 11 de setembro de 2004

É HOJE SÓ, AMANHÃ......

Hoje (ontem) é véspera do 11 de setembro. Mais do que as torres gêmeas, o stress que assola o meio audiovisual brasileiro é o fim do prazo para entrega das propostas dos editais lançados pelo Ministério da Cultura, no mês de julho. Em vez de torres gêmeas, temos quíntuplos bombardeios, dependendo do poderio de fogo de cada produtora audiovisual do país. Os maiores miraram diretamente os longas, mesmo os de baixo orçamento. Os médios procuraram seu lugar ao sol, atirado em todas as direções, as mais ambiciosas e as menos pretensiosas, como curtas, animações e infantis (afinal, mais vale uma brechinha do que nada). Os pequenos, que nem eu, miraram diretamente. Um tiro. E só.

No início, ainda cheia de ilusões, pensei em inscrever vários projetos. No mínimo, queria apresentar projetos de curta, curta infantil, longa documentário e desenvolvimento de roteiro. Isso supunha eu, na mais santa e ingênua ignorância do conteúdo do diário oficial da república. Quando fui analisa-lo, vi que a tarefa ia ser mais complicada do que imaginava a princípio. Tal e qual uma autêntica gincana, as exigências variavam de editam para edital. Selecionei dois, priorizando o de longa documentário. Minha segunda opção era o de desenvolvimento de roteiro. E fui para as cabeças.

TER OU NÃO SER
Tema: um que tivesse presente no meu cotidiano e sobre o qual acompanhasse seu desenvolvimento: a questão negra brasileira. Muito oportuno, levando-se em consideração que meus dois últimos trabalhos foram ligados a esta vertente. Local: o que mais conheço, e do qual quase morro de saudades, Mato Grosso. Em busca de um viés que contivesse um apelo ainda maior, vi dançar diante dos meus olhos o colorido de Vila Bela da Santíssima Trindade e descobri que o asfalto, finalmente chegaria a cidade, localizada a mais de 500 quilômetros de Cuiabá, na fronteira com a Bolívia. Aí está o meu mote...

Na pesquisa para montar o projeto para o edital, cujo prazo era, inicialmente, até o dia 25 de agosto, mergulhei no Vale do Guaporé, senti as batidas dos tambores, fiquei tonta com a mistura de cores das indumentárias da festança. Não queria mais que aquilo terminasse, não conseguia fechar o projeto. Encalacrei. Aí, Andre Mux, outro matogrossense "fake" que nem eu, me mostrou o livro de fotos "festanças de Vila Bela" do fotógrafo Mario Vilela, com legendas(!) de Ricardo Guilherme Dicke. E eu fiquei mais embriagada ainda de congos, choradas e Canjinjin.

VIAGENZINHA PARALELA

O prazo se esgotava justo um dia depois dos cinquenta anos do suicídio de Getúlio Vargas e com todos os canais sensitivos abertos, me dei um presente: fui explorar o Palácio do Catete, palco da tragédia, entre memórias, sentimentos e o fantasma do ex-presidente que, dizem, perambula no Museu da República. Perdi o rumo, e acabei escrevendo a matéria sobre Getúlio (publicada no A BORDA). Sorte que adiaram a entrega do projeto no Ministério da Cultura. Não ia prestar a mistura de histórias coloniais com o drama do suicídio que abalou o Brasil. Não que não fosse possível traçar alguns parelalelos interessantes e hipotéticos entre os dois eventos.

GINCANA E SOLIDARIEDADE


Nesta altura, a gincana corria solta. Já tinha acompanhado na lista da Associacâo Brasileira de Documentaristas, a ABD, uma montoeira de dúvidas e esclarecimentos sobre os ítens básicos dos editais. Que curta não precisava de orçamento, que as páginas tinham que ser times new roman, tamanho 12, espaço de 1,5 entre linhas,socorro! Comecei a montar o primeiro tratamento do orçamento do "Sem Fim... de Vila Bela" e é claro, estourei, e muito, os valores que havia estipulado. Como uma produtora básica, decidi colocar o documentário no valor exigido para que não fosse necessária a apresentacão de documentos que comprovassem o aporte de recursos externos. Menos documento, burocracia menor... Quando olhei meu frankeinstein de orçamento, resolvi procurar um coleguinha e ver como ele havia solucionado o impasse que me afligia. Dadas as devidas explicações (gracas a Deus, ele fazia parte da maioria, que prefere uma disputa justa a eliminar um concorrente pela ignorância ou falta de conhecimento) consegui continuar na batalha contra os números que teimavam em engordar a cada nova informação que inseria na tabela do meu excel.


NOVO DAY AFTER


Mais uns dias, o adiamento do prazo final e outra data fatídica, o 11 de setembro, como dead line no percurso dos editais. Coincidência pouca é besteira.


Neste meio tempo, uma proposta de trabalho irrecusável, já que salvadora da pobre e combalida pátria financeira. E lá vamos nós (eu e minhas laudas) para Blumenau, Santa Catarina. Finalizar, pelo menos um, com boa vontade os dois projetos passa a ser uma obsessão pós trabalho incessante numa campanha política.

Pra ter certeza que a tarefa será cumprida, a promessa e andar com o notebook para cima e para baixo. Produtora, hotel, hotel,produtora, produtora, hotel...Uma forma de não esquecer a responsabilidade assumida. As madrugadas passam, as dificuldades são vencidas dia a dia. É claro que sempre fica uma questãozinha burocrática para a última hora.

 Três dias antes do fim do prazo, uma última tentativa de, num esforço concentrado, emplacar o segundo projeto, o de desenvolvimento de roteiro. Mas ao preencher o histórico da roteirista, veio aquela sensação que ia ser uma luta desigual, por mais lindo que seja o argumento de "Monchão Trilheiro", uma historia garimpeira de Mato Grosso, como sempre. É melhor jogar todas as poucas, porém valiosas fichas no quilombo de Vila Bela.

Foi o que eu fiz. Hoje ainda não é amanhã, pois confesso, minha superstição foi poderosa e preferi fechar e enviar o projeto pelo correio um dia antes do 11 de setembro. Acho que as energias dedicadas a esta data estão esgotadas por muito tempo. Então, não custa nada prestigiar o dia 10, um dia sem tanto peso, mas mais humano e comum, como é o meu projeto.

Isolado e esquecido, diante da enormidade que o rodeia, mas pronto para dar sua contribuição cultural e reconhecer o valor de Vila Bela no contexto mato-grossense , brasileiro e, por que não dizer, mundial. Afinal, das pequenas propostas também podem nascer grandes obras. No mínimo, mensagens singelas e originais de paz e boa convivência, algo que este mundão tanto necessita...

NOVA ERA


O próximo passo é uma longa espera, afinal, de todos os muitos projetos inscritos na categoria que concorro, somente 4 serão premiados. Não é nada, não é nada, é tudo! E, na pior das hipóteses, o "Sem Fim de Vila Bela" está prontinho para ser enquadrado na lei Rouannet depois, é claro, de adequado às regras de mais uma gincana ministerial...


Bem vindos ao mundo, caros colegas, agora que esta gincana acabou, podemos voltar a discutir a Ancinav...

2 comentários:

MdC Suingue [CAS] disse...

E ai, minha filha, conseguiu mandar pelo menos um ne?
Tomara que voce consiga um pichule qualquer para realizar o filme.
Como vao as coisas em Blumenau? Falaram que essas campanhas esse ano estao miseraveis.
Beijos,

Jayme del Cueto . disse...

Ta�, Crioula.
Lia tua mat�ria. Atual e precisa. Cada vez mais a "burrocracia" nos imp�e o: "se podemos complicar, para que simplificar". Acho que dias melhores nunca vir�o...
Manda ver!